Falar em público: um caso de pânico, aventura e superação % Edu Adas Artigos

Falar em público: um caso de pânico, aventura e superação

Era sexta-feira quando comecei o trabalho de preparação com uma das gestoras de uma grande empresa. Ela falaria por oito minutos na convenção da companhia. Apesar de ser um tempo curto, parecia-lhe uma eternidade por causa da audiência: 5 mil pessoas – seus colegas de trabalho.

Estávamos em uma pequena sala de um hotel com mais duas pessoas. Ela dominava o que lhe cabia dizer. Conhecia muita gente na plateia, inclusive. Mas quando começou o ensaio, tudo isso perdeu a importância. Travou. Começou a tremer e, em poucos segundos, estava chorando. “Temos um problema”, pensei, enquanto tentava manter o semblante acolhedor.

Apesar da preocupação, a cena não era nova para mim. Em todos esses anos de SOAP, entendi que os desafios de falar em público são democráticos: acometem de profissionais em início de carreira à alta liderança de multinacionais. Têm menos a ver com incompetência ou falta de talento e mais com a capacidade de pedir ajuda, autoconhecimento e preparação para apresentações.

Escrevi sobre isso, com meu sócio e colegas da área, no livro Detone. Falar em público é um dos maiores medos da humanidade, comparado ao medo de morrer.

O ato de se expor para uma audiência é, muitas vezes, reconhecido pelo cérebro como uma forte ameaça porque nos coloca em contato com outros medos: do julgamento dos outros; do não pertencimento a um grupo (já que o apresentador se vê sozinho no palco); e do desconhecido (o que acontece agora?).

Mas nem sempre o medo é chamado por este nome. Receio, ansiedade, aflição, desespero… variações do mesmo tema.

Se este assunto também te dá frio na barriga, tenho algumas sugestões para você!

Três dicas para falar em público:

1. Pedir (e aceitar) ajuda

No dia a dia, noto que poucas pessoas têm a clareza ou a coragem para dizer algo que facilitaria seu desenvolvimento enquanto apresentador, fazendo com que se sentissem confiantes mais rapidamente: “Preciso de ajuda”.

Excelentes executivos que disseram “estou nervoso”, “tenho medo de travar”, “isso pode comprometer minha carreira” melhoraram notavelmente suas performances. Isto porque, diante de sua sinceridade, nós, que nos especializamos na área, podemos usar a experiência e compartilhar ferramentas que o ajudarão a construir o próprio caminho. Afinal, se uma pessoa procura um médico ao sentir dor nos joelhos, por que não procura um especialista para ajudá-lo a falar em público?

Então, foi isso o que fez a gestora a quem eu ajudava a se preparar para a convenção. Ela baixou a guarda, pediu e aceitou ser ajudada.

2. Para pedir ajuda é preciso ouvir os próprios pensamentos

Mas ela só fez isso porque, antes, percebeu que precisava de apoio. Porém, a verdade é que nem todos se dão conta ou admitem isso.

Muitos dos nossos clientes chegam para fazer o ensaio de suas apresentações tensos ou inseguros. Noto o olhar perdido, as mãos trêmulas, o rosto corado, a fala titubeante. Mesmo assim, a maioria não aborda o desconforto. Costuma usar justificativas como “não tive tempo para treinar” e “só tenho 15 minutos e vou praticar sozinho depois”.

Não à toa, antes de entrar no palco, é comum que se estabeleça um diálogo interno cheio de “e se…?”. “E se der branco na hora H?”, “e se não acharem que sou a pessoa certa para falar sobre esse tema?”, “e se meu chefe (ou minha equipe) achar minha apresentação chata?”. Nesses momentos, a tendência é se criarem automaticamente pensamentos negativos.

Escutar a própria mente só é possível quando temos autoconhecimento. Ter a coragem de enxergar suas lacunas – e paciência para se desenvolver.

3. Pratique, treine, ensaie

Há mitos mentais que aumentam a angústia diante da perspectiva de falar em público. Muita gente acredita que precisa ser impecável ao subir em um palco. Essa alta expectativa faz com que queira entrar no “modo apresentador”, aquele tão bem representado por pessoas públicas como Barack Obama.

O que muitos não se dão conta é de que Obama não se tornou uma referência mundial em apresentações apenas por talento ou sorte. Sabe-se que tinha uma rotina de treinamento, com exercícios de postura, fala e conexão com a audiência.

A gestora que eu ajudava a se preparar para a convenção da empresa treinou exaustivamente na sexta, no sábado e no domingo, com o acompanhamento meu e da equipe da SOAP. Na segunda, subi com ela no palco, diante de 5 mil cadeiras vazias.

Na terça, ela ainda estava nervosa. Mas estava também ensaiada, treinada, familiarizada, inclusive com o próprio medo. Chorou de novo.

Na hora de subir ao palco e fazer sua apresentação para a audiência, sentiu-se até empolgada, como me contou depois. Ao final de sua breve – e excelente – apresentação, chorou pela terceira vez.

Agora, de alegria. Mais tarde, ela me disse que aquele dia foi um marco em sua vida. Ela se libertou, destravando-se diante de outros desafios que viria a enfrentar. E nesse momento senti o orgulho de que sempre falo sobre trabalhar com a comunicação. Ela definitivamente transforma a vida das pessoas. Como é gratificante!

Conclusão

Concluir um artigo é como fechar o ciclo de uma conversa muito produtiva, e aqui estamos, prontos para dar esse último passo juntos. Ao longo deste artigo, exploramos as emoções e os pensamentos que muitas vezes nos dominam antes de uma apresentação. A ansiedade antes de falar em público é algo quase universal, uma experiência que une todos nós, independentemente de nossa experiência ou confiança. E agora, à medida que nos aproximamos do ponto final, quero destacar a importância de compartilhar e conectar.

Seja aqui, nos comentários deste blog, nas redes sociais como o Instagram ou pessoalmente, o importante é continuar essa conversa. Afinal, o processo de superar a ansiedade de falar em público é contínuo e evolutivo. Cada experiência, cada apresentação, nos leva a novos territórios de autoconhecimento e autoconfiança. E ao compartilharmos esses momentos, fortalecemos não apenas a nós mesmos, mas a todos aqueles que estão lutando com desafios semelhantes.

Forte abraço,

Edu Adas
Sócio fundador da SOAP, uma empresa que foi pioneira na criação do mercado de apresentações profissionais, tanto no Brasil como na Europa. Além disso, tive a honra de coautoria nos livros “Detone” e “Super Apresentações”. Hoje, dissemino a minha paixão pela comunicação com excelência por meio de cursos, mentorias e palestras.

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