Falar em público: um caso de pânico, aventura e superação - Edu Adas

Falar em público: um caso de pânico, aventura e superação

Por Eduardo Adas, sócio-fundador da SOAP.

Era sexta-feira quando comecei o trabalho de preparação com uma das gestoras de uma grande empresa. Ela falaria por oito minutos na convenção da companhia. Apesar de ser um tempo curto, parecia-lhe uma eternidade por causa da audiência: 5 mil pessoas – seus colegas de trabalho.

Estávamos em uma pequena sala de um hotel com mais duas pessoas. Ela dominava o que lhe cabia dizer. Conhecia muita gente na plateia. Mas quando começou o ensaio, tudo isso perdeu a importância. Travou. Começou a tremer e, em poucos segundos, estava chorando. “Temos um problema”, pensei, enquanto tentava manter o semblante acolhedor.

Apesar da preocupação, a cena não era nova para mim. Em todos esses anos de SOAP, entendi que os desafios de falar em público são democráticos: acometem de profissionais em início de carreira à alta liderança de multinacionais. Têm menos a ver com incompetência ou falta de talento e mais com a capacidade de pedir ajuda, autoconhecimento e preparação.

Escrevi sobre isso, com meu sócio e colegas da área, no livro Detone. Falar em público é um dos maiores medos da humanidade, comparado ao medo de morrer.

O ato de se expor para uma audiência é, muitas vezes, reconhecido pelo cérebro como uma forte ameaça porque nos coloca em contato com outros medos: do julgamento dos outros; do não pertencimento a um grupo (já que o apresentador se vê sozinho no palco); e do desconhecido (o que acontece agora?).

Mas nem sempre o medo é chamado por este nome. Receio, ansiedade, aflição, desespero… variações do mesmo tema.

Se este assunto também te dá frio na barriga, tenho 3 sugestões para você:

1.      Pedir (e aceitar) ajuda

No dia a dia, noto que poucas pessoas têm a clareza ou a coragem para dizer algo que facilitaria seu desenvolvimento enquanto apresentador, fazendo com que se sentissem confiantes mais rapidamente: “Preciso de ajuda”.

Excelentes executivos que disseram “estou nervoso”, “tenho medo de travar”, “isso pode comprometer minha carreira” melhoraram notavelmente suas performances. Porque, diante de sua sinceridade, nós, que nos especializamos na área, podemos usar a experiência e compartilhar ferramentas que o ajudarão a construir o próprio caminho. Se uma pessoa procura um médico ao sentir dor nos joelhos, por que não procura um especialista para ajudá-lo a falar em público?

Foi isso o que fez a gestora a quem eu ajudava a se preparar para a convenção. Ela baixou a guarda, pediu e aceitou ser ajudada.

2.      Para pedir ajuda é preciso ouvir os próprios pensamentos

Mas ela só fez isso porque, antes, percebeu que precisava de apoio. Nem todos se dão conta ou admitem isso.

Muitos dos nossos clientes chegam para fazer o ensaio de suas apresentações tensos ou inseguros. Noto o olhar perdido, as mãos trêmulas, o rosto corado, a fala titubeante. Mesmo assim, a maioria não aborda o desconforto. Costuma usar justificativas como “não tive tempo para treinar” e “só tenho 15 minutos e vou praticar sozinho depois”.

Não à toa, antes de entrar no palco, é comum que se estabeleça um diálogo interno cheio de “e se…?”. “E se der branco na hora H?”, “e se não acharem que sou a pessoa certa para falar sobre esse tema?”, “e se meu chefe (ou minha equipe) achar minha apresentação chata?”. Nesses momentos, a tendência é se criarem automaticamente pensamentos negativos.

Escutar a própria mente só é possível quando temos autoconhecimento. Ter a coragem de enxergar suas lacunas – e paciência para se desenvolver.

3.      Pratique, treine, ensaie

               Há mitos mentais que aumentam a angústia diante da perspectiva de falar em público. Muita gente acredita que precisa ser impecável ao subir em um palco. Essa alta expectativa faz com que queira entrar no “modo apresentador”, aquele tão bem representado por pessoas públicas como Barack Obama.

 O que muitos não se dão conta é de que Obama não se tornou uma referência mundial em apresentações apenas por talento ou sorte. Sabe-se que tinha uma rotina de treinamento, com exercícios de postura, fala e conexão com a audiência.

A gestora que eu ajudava a se preparar para a convenção da empresa treinou exaustivamente na sexta, no sábado e no domingo, com o acompanhamento meu e da equipe da SOAP. Na segunda, subi com ela no palco, diante de 5 mil cadeiras vazias.

Na terça, ela ainda estava nervosa. Mas estava também ensaiada, treinada, familiarizada inclusive com o próprio medo. Chorou de novo.

Na hora de subir ao palco e fazer sua apresentação para a audiência, sentiu-se até empolgada, como me contou depois. Ao final de sua breve – e excelente – apresentação, chorou pela terceira vez. Agora, de alegria. Mais tarde, ela me disse que aquele dia foi um marco em sua vida. Ela se libertou, destravando-se diante de outros desafios que viria a enfrentar. E nesse momento senti o orgulho de que sempre falo sobre trabalhar com a comunicação. Ela definitivamente transforma a vida das pessoas. Como é gratificante!

E você, com o que se preocupa ou o que o aflige antes de uma apresentação? Compartilhe suas questões por aqui ou no Instagram, onde tenho o projeto #sosSOAP e farei o possível para libertar você também desse medo que é tão comum em quem tem a responsabilidade de falar em público. 

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